A natureza do verbo

O mar, o céu, a mata,
Elementos que preenchem as sementes
De minha aventura pela lida com a palavra.
Esta dita, bem-quista
E aludida em breves sonatas.

Não diga nada!
Calo a vergonha do ato de aprisioná-la
Em terras nunca antes desbravadas
Nas profundezas de minhas molhadas lembranças.

Memórias de Além-mar.
Caos de alforrias amorosas,
Cais de abraços irmanados.

A preta do meu lado
Carrega comigo as correntes de amores bandidos.
Recordações de paixões e desejos
Voluptuosos.
Passagens de sombras outras
Seguidas em passos largos...
Firmes como o ferro,
Inoxidável como o aço.

Da chama que forja o metal de Ogun
Brotam rimas aguerridas,
Complementares em tons e cores
Irmanadas em temperatura e correntes
Que fluem dos braços de Oxum.

Ah! Ser Quilombos de Palavras...
É vibrar quilombos de sonhos,
Anseios,
Quilombo de encontros e memórias.
Quilombo em pretumes, anunciando
Com espada em punho:
Dandara e Zumbi estão em terra!

(Ana Fátima dos Santos)

Cadernos Negros, volume 39: poemas afro-brasileiros. Organizadores Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2016, p. 38-39.

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